terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Só na China...

Um relato de um repórter brasileiro neste peculiar restaurante de Pequim...


O Guolizhuang, um restaurante aconchegante, numa rua escura de Pequim, afirma ser o único espaço gastronómico na China, especializado em pénis.


Há milhares de restaurantes chineses pelo mundo e todos têm seu prato favorito, mas somente na própria China é possível provar algumas das suas especialidades menos usuais.

A comida à minha frente é cinza e brilhante.

"Cachorro russo", diz a Nancy.

"Cachorro grande", respondo eu.

"Sim", diz ela. "- Pénis de cachorro grande..."

Nancy trouxe uma grande quantidade de guloseimas. Elas são colocadas de maneira estranha em um prato enorme, com um crocodilo esculpido em uma cenoura ao centro.

Ao lado do pénis do cachorro estão os seus pegajosos testículos, e ao lado deles um objecto gigante com a forma de um salame.

"Burro", diz Nancy. "Bom para a pele..."

Ela guia-me pelo prato de pénis.

"Cobras, muito potentes. Elas têm dois pénis cada uma."

Eu não sabia disso.

"Ovelha... cavalo... boi... foca, excelente para a circulação."

Nancy aponta para três blocos escuros e enrugados que parecem tiras de alcaçuz. É aparentemente uma iguaria especial: rena, da Manchúria.

A atmosfera no Guolizhuang é mais a de um spa exótico do que de um bar para noitadas. A empregada Nancy autodenomina-se "nutricionista".

"Nós aqui não chamamos as pessoas de empregados. E não servimos muito álcool", conta a Nancy. Mas ela me oferece um cocktail de vodka e sangue de veado, que eu decido provar.

O cartilaginoso menu foi criado por um homem chamado Guo. Ele hoje tem 81 anos e está aposentado.

Após fugir da guerra civil em 1949, Guo mudou para Taiwan e depois para Atlanta, nos Estados Unidos, onde começou a estudar a medicina tradicional chinesa e a experimentar com os membros dos melhores amigos do homem.

Aparentemente, eles têm baixo colesterol e são bons não somente para aumentar o desejo sexual dos homens, mas também para curar toda espécie de enfermidades.

Cozido de Pénis

As risadas reverberam pelas paredes da sala de jantar. "Membros do governo", diz Nancy. "Dois deles estão no andar de cima, comendo um cozido de pénis."

A maioria dos clientes do restaurante é formada por homens de negócios ricos ou burocratas do governo, que, como Nancy observa, são levados ao local por pessoas que querem sua ajuda.



Que maneira melhor de fechar um negócio do que ter à frente um fumegante fondue de pênis?

A discrição é assegurada, já que todas as mesas são localizadas em salas privadas. A mais luxuosa tem pratos de ouro.

"Alguns de nossos pratos são servidos crus, como sushi", diz Nancy. "Mas podemos cozinhar qualquer coisa que você queira."

"Não muito tempo atrás, um magnata do mercado imobiliário veio aqui com quatro amigos. Todos homens. As mulheres não vêm aqui com freqüência, e elas não deveriam comer testículos", diz solenemente a empregada.

Os homens gastaram US$ 5,7 mil num prato particularmente raro, algo que teve que ser pedido com meses de antecedência. "Pénis de tigre", conta a Nancy.

Extinção

O mercado ilegal de partes do corpo de tigres são um grande problema na China. Activistas dizem que a espécie está a ser levada à extinção por causa de sua popularidade como fonte da medicina tradicional chinesa.

De maneira sutil, menciono esse facto a Nancy, mas ela argumenta que todos os suprimentos de tigre do restaurante vêm de animais que morreram naturalmente.

"De qualquer forma, só temos um ou dois pedidos por ano", diz ela.

"E que sabor ele tem?", pergunto.

"Ah, o mesmo que todos os outros", responde alegremente.

E ele tem algum efeito especial?

"Não. As pessoas gostam de pedir tigre para mostrar como têm dinheiro."


Frio, suave e borrachoso

Nancy diz que o mesmo grupo que pediu pénis de tigre também comeu um feto de rena abortado. "Isso é muito bom para a pele", afirma a empregada.

Outra "nutricionista" entra com algo pequeno e vermelho embrulhado em filme plástico. Meu apetite está fugindo para o aeroporto. Mesmo assim, imagino que seria rude não provar alguma coisa.

Normalmente não tenho problemas com este tipo de coisas. Já provei baratas fritas e olhos de cabra.

Há na mesa uma pequena tigela com pénis de boi fatiado em conserva. Pego um pedaço com os meus palitos e começo a mastigar. É frio, suave e borrachoso.

Nancy lança um sorriso vigilante na minha direcção. "Este deveria ser comido todos os dias", sentencia.


Bom, prometo deixar mais uns relatos gastronómicos que se vão passando por esse mundo fora.

Beijocas, Abraços e... bons cozidos, carnes frias, o que queiram! hehhe

Gonça